segunda-feira, 20 de julho de 2009

Governo vai dar até 6.500 euros a quem comprar carros eléctricos


SÓ EM 2010-2012, SERÁ PARA ELEITOR VER?

O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou hoje um conjunto de medidas de incentivo à compra de carros eléctricos, durante a apresentação da nova fábrica de baterias que a Nissan vai instalar em Portugal.

Primeiro, um incentivo financeiro: o Governo dará 5 mil euros a quem comprar um carro eléctrico, encorajamento que pode ascender aos 6.500 se da aquisição também resultar o abate de um automóvel antigo, assinala o Diário Económico.

As empresas que quiserem renovar a sua frota com carros eléctricos terão o IRC reduzido em 50 por cento. Outra medida de peso passa por obrigar todos os edifícios novos, como condomínios privados ou escritórios, a terem um posto de abastecimento para carros eléctricos.

UMA PEQUENA REFLEXÃO SOBRE ESTA TEMÁTICA

Carro eléctrico versus a gasolina: que economia em cada 100 km?

Um carro a gasolina típico num circuito combinado (auto-estrada+estrada+cidade) gasta entre 6 e 12 litos de gasolina, conforme seja um Honda Jazz ou um BMW de 6 cilindros. Admitamos, para fixar referências, que é um Honda Civic e que gasta, portanto e em média, 7 litros.
Um Civic não é concebido para a máxima economia. Uma das operações que dissipa muita energia é a travagem do "pára-arranca" urbano. Se, durante a travagem, for possível recuperar a energia cinética do carro em vez de a dissipar a aquecer os discos dos travões, muito se poupará. É isso que fazem os automóveis híbridos. Durante a travagem, em vez de aquecerem discos nas rodas, os "travões especiais" do carro híbrido funcionam como um gerador e carregam baterias. Depois, o carro usa de novo essa energia recuperada das travagens com um motor eléctrico auxiliar do a gasolina. Globalmente, portanto, é nos percusos do "pára-arranca" que um híbrido mais poupa. No percurso misto cidade+estrada+auto-estrada, um híbrido como o Insight da Honda gastará apenas 5 litros (o fabricante diz que são só 4,5l mas já isso é em condições ideais). E ainda se lhe podem acrescentar alguns aperfeiçoamentos, como o painel solar fotovoltaico no tejadilho que equipa o novo Prius da Toyota, e que talvez reduza o consumo médio para 4,5 litros (a Toyota diz que para 3,9 l).
Ora 4,5 litros de gasolina custam hoje em dia em Portugal 6 € (a 1,33€/l), mas deste valor cerca de 65% são impostos para o Estado. Descontando-os, temos que num carro a gasolina optimizado para economizar (ou seja, híbrido), o custo de combustível sem Impostos será de uns 2 € para se fazer 100 km. Num carro similar não-híbrido será uns 50% superior, portanto 3 €.
E quanta energia eléctrica gastará um carro eléctrico equivalente a um Civic? Um Tesla da Califórnia (vd. figura) gasta cerca de 12.5 kWh aos 100 km, embora um Toyota RAV eléctrico anuncie 18 kWh (naturalmente, os carros eléctricos também fazem "travagem regenerativa de energia" como os híbridos). Ora o kwh no consumidor está a cerca de 0,1 €, pelo que o consumo do Tesla custará, áparte o custo da bateria, cerca de 1,2 €. Porém, este custo está presentemente subsidiado pelo défice em perto de 40%, pelo que retirado esse subsídio o custo sobe para 1,7 € (2,4 para o RAV). E é este valor que se tem de comparar com os 2 € sem impostos que custarão os 100 km no carro a gasolina híbrido (ao preço actual da gasolina). Como se vê, a diferença é pequena, e se considerarmos o custo adicional a incluir no kwh das estações de carga das baterias, o custo ficará praticamente igual.
Claro, ficaram por tratar os custos do carro em si e o problema crítico da sua autonomia, dada a fraca capacidade das baterias existentes. Porém, o que é evidente é que qualquer comparação de custos entre gasolina e electricidade tem de ter muito cuidado em descontar a parte política dos respectivos preços; sem isso, em vez de termos os custos reais aproximadamente iguais, teremos a ilusão do carro a electricidade poder gastar 1/4 do $ que gasta o equivalente a gasolina (como nos tentam enganar aqui). Ora, não é fácil de crer que o Governo venha, num cenário futuro de carros eléctricos, a aceitar perder o Imposto sobre os combustíveis em troca de nada e muito menos em troca de um défice tarifário permanente na electricidade.
Por outro lado, umas contas simples mostram que para carregar as suas baterias, se todos os carros portugueses em circulação (quiçá 3,5 a 4 milhões) forem eléctricos e fizerem de 12.500 a 15.000 km/ano, isso causará um consumo de energia eléctrica adicional de 10 a 14% do consumo nacional actual (que é de 50 Twh). Como já existe um défice de produção anual de perto de 10% (importada) e a exploração integral dos recursos eólicos nacionais dificilmente permitirá acrescentar mais que 10% ao que já está em exploração, tal significa que serão sempre precisos mais 10 a 14% de geração (além da eólica) para cobrir o consumo eléctrico automóvel e ser-se auto-suficiente em electricidade. O equivalente a uma central térmica, nuclear, à gás ou a carvão...

IN A ciência não é neutra

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